Próxima edição acontecerá em setembro
Camila Caetano – especial para o Diário
Para quem está sempre antenado na cultura urbana da cidade, com certeza já ouviu falar em Dendê – um poeta, mc e produtor cultural petropolitano. Atualmente ele possui 17 anos e já coleciona seis vitórias no Slam – um concurso de poesias urbanas, em que também foi vice-campeão municipal em 2019. Assim como outros artistas que fazem com que a rua seja o seu palco, para ele, a pandemia também tem sido um momento de aprendizagem e reinvenção. Desta forma, realiza alguns saraus online, para, mesmo em isolamento, manter acesa as chamas da rua.
Muitas pessoas fazem da arte uma válvula de escape para a vida árdua do cotidiano, e, com Dendê não foi diferente. Seu pai sempre foi ausente, e, sua mãe faleceu, vítima de lúpus quando o artista possuía apenas 9 anos de idade. As fatalidades do dia-a-dia e a solidão que sentia, fizeram com que ele transformasse a arte e a poesia em seu porto seguro, de conforto, e de luta. Além de retratar sentimentos diários como raiva e saudade, quando começou a ter acesso às redes sociais, em meados de 2015, sua poesia também acolheu a luta para causas como identidade de gênero, racismo, feminismo, homofobia, entre outras.
– Em 2012, perdi minha mãe para o lúpus. Costumo dizer que naquele momento eu atingi a maior idade. O meu pai sempre foi ausente. A partir daí fui morar na casa dos meus avós com um primo, e minha irmã. Tudo virou de cabeça pra baixo. Aos 9 anos e sem minha mãe, eu me sentia filho de ninguém. Obrigação de ninguém. Sentia que era eu e o mundo, o mundo e eu. Foi então que eu conheci a poesia – disse ele, que continuou:- Nos livros de poesia que eu me escondia quando tinha medo. Nos livros de poesia que me encontrava quando precisava de ajuda. De repente não era mais eu e o mundo, era eu e a poesia. Sempre tive que dividir tudo, nada era só meu, mas, quando eu encontrei a poesia eu achei algo que me pertencia, foi assim que eu decidi escrever. Os meus textos falam sobre o que eu sinto, e o que eu sinto as vezes abrange um todo, o que eu sinto outras pessoas também sentem. Ninguém sente sozinho – relatou ele, relembrando que apesar dos prêmios que conquistou no Slam do ano passado, foi em 2018 que recitou uma poesia pela primeira vez na Roda Cultural do CDC e a partir disso, decidiu atender ao chamado e viver de poesia.
Sarau do Dendê:
Em seus perfis do Instagram (@saraudodende e @meninedende) ele organiza um evento online chamado Sarau do Dendê com o intuito de abrir espaço para outros poetas que também estão começando. Os eventos contam com pequenos shows, “stand-up comedy”, conversas e blocos interativos de perguntas e respostas. Ele garante que em setembro, os seus seguidores serão contemplados com uma super edição, mas, seus projetos para o sarau vão muito além das redes sociais.
– O sarau foi uma iniciativa minha de levar cultura, arte e alegria para as pessoas dentro de casa, e abrir espaço para poetas que estão começando, assim como eu. Meu sonho é muito grande, o sarau é meu projeto de vida. Quando essa pandemia passar quero viajar o Brasil com ele, levar arte onde não tem, fabricar sonhos, criar núcleos do sarau em cada canto do país. Espero expandi-lo para além da poesia, quero que os núcleos tenham psicólogos, médicos, e dançarinos para dar oficinas e cursos de formação para que a comunidade saiba que pode ser revolução – almejou ele, complementando que nasceu e cresceu na 24 de Maio. Ele destaca:- eu sempre fui chamado de rebelde sem causa, mas, hoje, sou rebelde por uma causa. O Sarau do Dendê é um hospital lírico, onde cuidamos do corpo, da mente e da alma – ressaltou, salientando que ainda assim, sente falta da rua e de estar em movimento.
Em breve, outras informações sobre a edição de setembro estarão disponíveis nos perfis do Instagram citados anteriormente.
Seu nome:
“Dendê” não é seu nome de registro, mas, é o nome que ganhou em sua religião e se identificou, entre as perdas da vida. Após uma depressão profunda, aos 14 anos ele voltou a escrever e pesquisar sobre identidade de gênero. Entretanto, todos esses pensamentos tiveram que dar uma pausa, visto que perdeu os avós com quem morava, sequencialmente. Quando começou a frequentar terreiros de umbanda, diversas questões de sua vida foram ficando mais claras.
– Eu não gostava do meu nome de registro, pois não me identificava com ele. Na umbanda, os filhos os meus orixás são chamados de Dendê. Este nome me soou bonito e leve. Não nasci assim, me tornei. Meus ancestrais me deram esse nome, e eu aceitei e me apossei do mesmo. Nunca me senti tão perto da verdade como agora. Sou um menino transsexual e não binário – conta Dendê, feliz com a descoberta.
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