Autor garante que coleção ficará pronta até fim do ano e procura lugar para expor
Camila Caetano – especial para o Diário
Desde quando Petrópolis era um simples pedaço de terra desconhecido, seus ares inspiradores sempre encantaram aqueles passavam pelos seus acessos. Hoje em dia, tudo está diferente, mas, os artistas com percepção sensível, são a prova viva de que, apesar das mudanças ocorridas, esses ares inspiradores permanecem ventilando o município. Um deles é Pedro Neves (mais conhecido como Tatuí) um jovem petropolitano de 26 anos, que, além de tatuador, também é pintor, e gravurista. Muitos elementos lhe servem como inspiração, como por exemplo, os pontos turísticos mais famosos da cidade, e os rostos que compõem a sua rotina. No entanto, não para por aí. Durante a pandemia, ele tem pintado uma coleção de quadros em que tem como inspiração, os pacientes do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), criados com o objetivo de substituir os antigos hospitais psiquiátricos.
Para ele, o interesse pela tatuagem surgiu como um abridor de caminhos, visto que este foi o motivo pelo qual trancou a faculdade de desenho industrial que cursava na UFRJ. Dois anos após esta atitude, Tatuí descobriu o seu caminho e reingressou na Escola de Belas Artes – dessa vez, para estudar gravura e pintura, onde desenvolveu uma série de retratos de pessoas da cidade, como por exemplo, seguranças de supermercados, garis, entre outros trabalhadores manuais.
“Comecei a tatuagem no meio da faculdade.”
– Eu comecei a tatuagem no meio da faculdade, pois, não estava contente com o curso de Desenho Industrial, não tinha certeza de que era o que eu gostaria de ter como profissão e acabei trancando-o, onde comecei a tatuar. Eu já havia estudado desenho antes da faculdade, gostava de fazer personagens e retratos, então depois de algum tempo tatuando eu comecei a utilizar técnicas que eu já fazia no desenho, e comecei a desenvolver o estilo realista na tatuagem.
Depois de dois anos eu acabei por reingressar na UFRJ. Na Escola de Belas Artes temos pintura, gravura e escultura como cursos separados. No meu reingresso, cursei pintura. Lá eu aprendi várias técnicas e desenvolvi uma série de retratos das pessoas aqui da cidade, e afins. Além disso, também estudei gravura por um tempo – informou o artista.
Os materiais utilizados por Tatuí na execução de seus trabalhos variam desde tintas e pincéis, à placas de madeira e chapa de cobre, nas gravuras. Diversos pontos turísticos da cidade já foram explorados por ele nesse quesito, como por exemplo, a Catedral São Pedro de Alcântara, o Trono de Fátima, Museu Imperial, Palácio de Cristal, entre outros. Ao longo desses anos, ele também produziu uma série de retratos dos brasileiros, outra de paisagens do país, e, agora, está produzindo a terceira série, que é inspirada nos pacientes de reabilitação do CAPS.
Coleção inspirada em pacientes do CAPS:
Há um ano, Tatuí realiza um trabalho voluntário no Centro de Assistência Psicossocial, os famosos CAPS. Lá, ele dá aulas de arte terapia, contemplando diversas atividades dessa esfera. Segundo ele, o desejo de ilustrar os pacientes surgiu da experiência vivida com os mesmos, e com o vínculo criado. Além disso, o artista reforça que em função da pandemia, não tem atendido no local. Algo que gera nele o sentimento de saudade.
– Há um ano eu faço um trabalho voluntário no CAPS, dando aulas de arte terapia que variam desde modelagem, à pintura. Foi um ano trabalho bem intenso em contato com os pacientes. Atualmente, não tenho dado mais aula no local, devido à pandemia. No entanto, é uma das coisas que sinto bastante falta. Os pacientes sempre pintavam coisas bastantes coloridas, e por isso, decidi trazer além do retrato, as cores que eles mais utilizam, como referência. Eu pretendo terminar essa série até o final do ano, e estou procurando um lugar para expor – disse Tatuí, pontuando que a arte tem sido uma aliada de todo mundo durante a pandemia.
“Não tem como não se entristecer com os acontecimentos atuais.”
Ele destaca:- Não tem como não se entristecer com os acontecimentos atuais, mas, nesses meses, acredito que todos passamos a nos conectar de outra forma e a arte foi uma grande aliada nesse processo. Ficar confinado em casa levou todo mundo a ver um filme, uma série, um documentário, escutar música, e ver os quadros que estão na parede por repetidas vezes de certa forma acredito que todos nós vamos sair mais sensíveis depois disso tudo – complementou ele.
Vale salientar que em conjunto com outros artistas, também existe um projeto denominado Tatuí. O objetivo do mesmo, é levar mais arte para as pessoas através de projetos sociais. Durante a pandemia, eles se reuniram para trocar pinturas por ração para animais, que posteriormente foram doadas às ONGs mais necessitadas.
– Realizamos o troque “pintura por ração” durante a pandemia, onde eu e mais três amigos artistas no unimos para trocar uma arte por ração, e, depois de arrecadadas, doamos para as ONGs necessitadas. Tenho intenção de me unir cada vez mais a outros artistas e poder promover a arte na cidade – concluiu Tatuí.
Para quem deseja conhecer um pouco mais do seu trabalho, existem outras informações disponíveis em @pedronevestattoo e @tatui.art.
Veja mais sobre artistas que trabalham com projetos sociais, conheça o Doug e seu trabalho com o Projeto Grão, clique aqui.