A tatuadora Gabriela Contage, Gabi Poke, segura seu caderno de desenho com ilustrações de coelho em nanquim.

Tatuadora petropolitana utiliza técnica denominada Handpoke

Técnica artesanal não faz uso de máquina, somente agulha e tinta

Camila Caetano – especial para o Diário

Quando falamos em tatuagem, automaticamente nos remetemos a ideia e ao barulho das máquinas derotação e bobina utilizadas para fixar a tinta na pele. De acordo com estudos do Ideia Fixa, as mesmas conseguem furar a derme entre 50 e 3.000 vezes por minuto. Ao chegar num estúdio, é possível sentir um certo nervosismo, devido ao som emitido pelas mesmas. O que muitas pessoas não sabem, é que este método, nem sempre foi o mais utilizado, e que existe um jeito mais delicado, e menos doloroso de tatuar. Há milênios, os desenhos eram feitos manualmente, ponto por ponto, fixados por pontas de bambu, e, existem lendas que até dentes de tubarão eram utilizados no processo – esta técnica de tatuagem artesanal, denomina-se Handpoke.

Em Petrópolis, uma artista e tatuadora da cidade é praticante deste método. Ao contrário do que se pensa, ela não utiliza dente tubarão no processo, mas, sim uma agulha descartável, e tinta. Seu nome é Gabriela Contage, no entanto, artisticamente é conhecida como Gabi Poke. Ela se formou na faculdade de Belas Artes da UFRJ em 2014, com ênfase em pintura a óleo. Antes de conhecer o Handpoke, ela conheceu outros lugares e culturas pelo mundo, desta forma, colhe em seu trabalho, os frutos da sua experiência de vida. 

– Sempre desenhei e pintei desde criança. Em 2014, encerrei a faculdade de Belas Artes na UFRJ com ênfase em pintura a óleo, e tive a oportunidade de ir para os Estados Unidos com meu orientador para fazer um curso, onde fiquei estudando por um tempo. Quando voltei, trabalhei com ilustração, sobretudo de livros. Também trabalhei com pintura, dei aulas de aquarela, e alguns workshops. Em 2016 conheci o Handpoke, que é essa técnica manual de tatuagem. Pesquisei muito, mas, pelo Brasil encontrei pouco material, até que em 2017, fui pra Austrália e Nova Zelândia, onde consegui aprender mais sobre essa técnica, de origem aborígene. Fiquei por lá um ano e meio. Trabalhei em um estúdio na Austrália, e depois três meses num estúdio da Nova Zelândia, onde aprendi mais sobre a cultura Maori. Voltei e desde então trabalho com a pintura e com a tatuagem – revelou a artista, complementando que sua vida é um pilar muito bem equilibrado entre a tinta da aquarela, e a agulha da tatuagem. Durante a quarentena, ela tem trabalhado mais com a pintura.

Aceitação da técnica no Brasil: 

Gabi conta que quando retornou ao Brasil, a técnica foi muito bem recebida por um público específico, composto por pessoas que nunca tinham feito tatuagem. Em torno do Handpoke, constantemente rondavam alguns mitos, desmitificados pela tatuadora. Um exemplo disso, é que os interessados costumam achar que dói mais, no entanto, por se tratar de uma técnica delicada, e menos agressiva que a máquina, a informação não procede. Também por isso, cada sessão costuma durar de três a quatro horas. Tempo que requer paciência da tatuadora, e dos clientes. Mesmo antes da pandemia, Gabi sempre trabalhou atendendo apenas uma pessoa por dia.

– Fiz a primeira tatuagem de muitas pessoas, inclusive as que falaram que nunca tatuariam, e depois se encantaram pelo processo, assim como eu. Geralmente eram pessoas mais velhas, sobretudo mulheres, que sempre tiveram vontade de tatuar, mas nunca tinham se identificado com outro estilo. Quando cheguei no Brasil eu não tinha cliente, mas, a maioria dos brasileiros que eu tatuava na Austrália eram de São Paulo. Por isso, o meu trabalho era mais divulgado lá. Eu moro em Petrópolis, mas ia pra lá constantemente para tatuar. Lá, foi o primeiro lugar que consegui ter clientes no Brasil. Hoje em dia já cresceu bastante, e ganhou bastante visibilidade no Rio, e em Petrópolis – informou a profissional. Ela continuou:- Sempre trabalhei atendendo só uma pessoa por dia, pois, o encontro para tatuar é uma coisa muito forte, e dessa forma, posso dar o melhor de mim. É um processo que requer paciência, tanto minha, quanto do cliente. O tempo médio de uma sessão é de três a quatro horas. Já fiz uns projetos que precisaram de 12h, mas, hoje em dia não faço mais – destacou Gabi, salientando que suas pesquisas para tatuagem e aquarela, são inteiramente voltadas para botânica e temática orgânica. Ela salienta que 90% dos clientes não sentem dor nenhuma, e dormem durante o processo pela ausência de barulho.

Em trabalhos maiores, Gabi faz o singelo e delicado da máquina, unindo a técnica do Handpoke, com o que aprendeu no curso com a Thais Valente, uma tatuadora renomada pelo Rio de Janeiro, e pelo Brasil.

– Em trabalhos maiores eu utilizo a máquina, de maneira delicada. Quando voltei da Nova Zelândia fiz um curso com a Thais Valente, e no início desse ano, também aprendi muito sobre minimalismo e realismo com a Mariana Silenze, que é outra área que gosto muito. Quando uso a máquina, misturo com o Handpoke, pois, ele traz uma identidade leve e única. É muito tranquilo, e a cicatrização também é muito suave, visto que, é feito em pontilhismo – algo que a torna mais fácil, já que cada ponto forma uma mini casquinha. É um trabalho que requer mais cuidado na cicatrização, como todos os projetos delicados – acrescentou a tatuadora. Ela garante que os desenhos permanecem fixos na pele, como toda tatuagem.

Nova coleção de desenhos será lançada este mês:

Durante a quarentena, Gabi explorou outras esferas da artes, e outros materiais. Essas atividades variam desde fazer tricô, a esculpir. Segundo ela, este foi um momento em que conseguiu aproveitar para se voltar mais ainda para o fazer artístico. Ela reitera que ficou o menos possível no celular, pois, de acordo com a mesma, o mundo virtual, não é diferente do mundo real. Entretanto, é diferente do mundo concreto. Neste mês, ela lançará uma nova coleção de desenhos.

A tatuadora Gabriela Contage, Gabi Poke, especializada em Handpoke desenhando motivos botânicos em papel com nanquim.
Gabi Poke desenhando motivos botânicos com nanquim.

– Aprendi a, antes de tatuar, pintar ou qualquer maneira de materializar algo. Eu faço um chá, agradeço muito e me pergunto como minha arte pode acalentar algum coração nesse mundo, além do meu. A quarentena também foi uma forma de eu me voltar para o fazer artístico, pois, com o cessar das atividades profissionais, acabamos tendo mais tempo para fazer com qualquer outra coisa. Por enquanto, estou trabalhando só com projetos autorais, e disponibilizando poucos horários na agenda. Assim, lanço uma coleção de desenhos dentro de uma temática específica. A primeira se chamou “Um Carinho do Campo”, que foi de flores em aquarela colorida. A segunda “Um Carinho da Terra e do Ar” que era inspirada em animais e algumas flores em preto e cinza. A terceira vou lançar no início de outubro, e se chama “Um Carinho do Céu”, são desenhos pra tatuar em azul e algumas pinturas para vender em óleo e aquarela, também azuis. Até o final do ano terá mais uma coleção em botânica – finalizou Gabi.

Outras informações estão disponíveis em seu perfil no Instagram (@gabi.poke)

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